Genaro “Rino” Malzoni: da Itália para o Brasil

Rino Malzoni nasceu na Itália em 1917 e veio para o Brasil na companhia dos pais em 1922, com cinco anos de idade. A família Malzoni, porém, já estava presente no Brasil havia mais de cinquenta anos. Seu avô, Genaro, imigrou em 1859, mas diferentemente da maioria dos italianos que para cá vieram, à procura de trabalho, chegou ao Brasil para investir. Logo de início, comprou terras na região de Matão, SP, onde estabeleceu a Fazenda Trindade, onde passou a plantar café, na época o principal produto agrícola brasileiro.

Família de empreendedores

Espírito empreendedor, o patriarca Genaro Malzoni não só produzia, mas também exportava café. Ele abriu um entreposto em Santos, chamado Casa Comissária, e, junto com os irmãos, um banco, a Casa Bancária Irmãos Malzoni. O pai de Rino, Francisco Malzoni Neto, nasceu no Brasil e só foi conhecer a Itália em 1898, quando seu pai resolveu retornar à terra natal. Lá ele estudou e casou com Imaculatta Matarazzo, com quem teve quatro filhos: Genaro (Rino), Catarina, Fulvio e Tereza. Antes de Francisco decidir voltar ao Brasil, a família enfrentou na Itália os anos tumultuados da Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1918.

Rino Malzoni
Rino Malzoni

Em 1964, Rino Malzoni, sua mulher, Anita, e o filho Kiko, visitam o Salão do Automóvel de São Paulo, ocasião em que o GT Malzoni Tipo IV foi exposto.

Rino Malzoni

Rino (à esquerda), ao lado da filha, Maria do Rosário – a Rô – e do genro, Carlos Fischer.

Paixão precoce

A família contava que, na hora de embarcar para o Brasil, Rino protestou muito por deixarem na Itália a Alfa Romeo do pai. “La machina, voglio la machina!”, protestou ele no porto. Era um prenúncio da paixão que envolveu toda a sua vida.

De volta ao Brasil, Francisco Malzoni voltou para Matão e reassumiu os negócios da família. Bem mais tarde, em 1953, comprou a Fazenda Chimbó, incrementando sua produtividade com muitas máquinas e implementos agrícolas. Além de plantar, produzia num engenho próprio uma famosa cachaça, “Saudades do Matão”, marca derivada de uma famosa canção sertaneja.

A todas essas, Rino formara-se advogado na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, a mais conceituada do país na época e passou a trabalhar na Companhia Sul-Americana de Metais, do industrial e playboy internacional Francisco “Baby” Pignatari. A carreira de advogado, porém, foi curta. Em 1943, ele casou-se com Anita, filha de José Artimonte, também fazendeiro de Matão. O casal teve dois filhos, Maria do Rosário, a Rô, nascida em 1947, e Francisco, o Kiko, em 1955.

A paixão de Rino Malzoni pela mecânica já vinha da adolescência. Na época das férias escolares, quando voltava de São Paulo, costumava passar horas no galpão da oficina, montando e desmontando os equipamentos agrícolas. Com 14 anos, também na fazenda, ele aprendeu a dirigir. Para aprender mais sobre carros, passou a frequentar também a oficina do tio, Gino Torchio, no centro de Matão, muito bem equipada já que, na época, frequentemente era impossível encontrar peças de reposição para os carros – todos importados – e a solução era fabricá-las.

Transformações

O primeiro projeto automotivo de Rino Malzoni foi transformar, no final dos anos 1940, um enorme Lancia tipo “torpedo” (carroceria aberta com quatro lugares) num roadster de dois lugares, inspirado nos esportivos ingleses MGs que empolgavam os jovens na época. Ele mudou também a dianteira de um Austin A90 Atlantic conversível, assim que o tirou da loja em São Paulo. Outros feitos no gênero foram a modificação de uma Maserati cupê 1952 que, além da frente, teve substituído o motor e o câmbio pelos de uma Ferrari 250 Testarossa e a troca da grade de um BMW 328.

O conhecimento de Rino não era empírico: ele assinava as principais revistas de automóveis europeias, que encadernava organizadamente em capas de couro, cheias de anotações e desenhos pelas margens.

A transformação de um Ford modelo A, um projeto que levou o tio Torchio a reclamar, por ter tomado muito tempo e atrapalhado os trabalhos de sua oficina, levou Rino a criar sua própria, na fazenda. Estava pronta a base: o próximo passo seria criar um carro.

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